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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, setembro 08, 2013

OS AMX, OS SUKHOI, E OS EUA



(HD) - Os pilotos da FAB, que majoritariamente prefeririam a compra de jatos russos Sukhoi-35, no lugar de caças norte-americanos F/A 18E (ver comentários em outras matérias sobre defesa neste blog), devem estar com suas esperanças renovadas, em razão da espionagem direta da NSA (agência nacional de segurança) norte-americana sobre a Presidente Dilma Roussef e outros membros do governo brasileiro. As denúncias praticamente sepultam as chances da Boeing vencer a licitação do Programa F-X2.
O Brasil não foi apenas mais um país entre os muitos espionados pelos EUA, mas o país estrangeiro mais espionado pelos EUA.
Os norte-americanos nos consideram não apenas um adversário potencial, mas - como criador dos BRICS e terceiro credor dos EUA – o seu pior inimigo, a nação mais perigosa do mundo, no contexto geopolítico.  
Se os Estados Unidos são capazes, do ponto de vista moral, de espionar até o email dos outros, como o mais vulgar fofoqueiro de escritório ou hacker ladrão de senha de banco e de cartão de crédito, imagine-se o que não fariam com os códigos-fonte  dos novos caças brasileiros, e o que não fazem, por meio das empresas (próprias e originárias de outros países da OTAN), que trabalham na indústria de  “brasileira” de defesa.
A nova motorização e aviônica dos caças AMX - os primeiros exemplares modernizados foram entregues pela Embraer à FAB essa semana - mostram que, se quisermos, poderemos fabricar aqui mesmo, a partir desse vetor subsônico, aviões intermediários para cuidar da defesa de nossas fronteiras.
Quanto à compra de caças-bombardeios de primeira linha, a aproximação com os russos, com a aquisição dos Sukhoi-35 como fator de dissuasão, nos permitiria entrar de pleno como sócios em bases iguais - com garantia de desenvolvimento e transferência de tecnologia - no Projeto do PAK FA T50, o caça multipropósito de quinta geração que está sendo construído em conjunto por russos e indianos no âmbito dos BRICS.
O PAK-FA está sendo desenvolvido justamente para substituir o Sukhoi SU-35 (sua tecnologia os russos já asseguraram ao Brasil em caso de compra), como o principal caça russo para a primeira metade do século XXI. É um caça-bombardeio polivalente de incrível manobrabilidade (ver vídeo), com um alcance de 5.000 quilômetros, e carga de 10 toneladas de armas.  
 
 
Enquanto os EUA fazem o que querem com as nossas telecomunicações - criminosamente desnacionalizadas no Governo Fernando Henrique, a ponto de entregar até os BrasilSATs para os mexicanos - a Embraer se aproxima perigosamente da Boeing, em projetos como o do novo transporte militar KC-390, originalmente projetado no Brasil, e concebido inicialmente como um avião regional, sem participação norte-americana.
Considerações de mercado não podem sobrepor-se a interesses estratégicos nacionais, principalmente quando se trata de “sócios” com a credibilidade e caráter de nossos vizinhos do norte. 
*MauroSantayana

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