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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, junho 30, 2013

A greve de quem não trabalha
 

manifestante-mascarado-fica-em-frente-ao-ministerio-das-financas-em-atenas-a-espera-de-de-representantes-da-troika-composta-pela-uniao-europeia-banco-central-europeu-e-fundo-monetario-1365098144837_1920xPor Ana Helena Tavares(*)
Um mascarado cria um evento no Facebook. Um monte de gente compartilha. Pronto, temos uma greve geral.
A greve dos que podem passar horas no Facebook, porque não pegam no batente. A greve dos que nunca se importaram com greve.
Não devia se chamar greve. Cairia melhor anti-greve. A greve dos que têm bolsa sem precisar dela e ainda desdenham de quem precisa.
A greve de quem, por não saber o que é trabalho, busca um atalho para atrapalhar quem trabalha. A greve de quem não malha.
Nunca malhou. Nunca gritou, desesperado, por melhores salários. E busca a desestabilização de uma nação sem memória.
Esquecida da história de luta partidária, luta sindical, manchada de sangue. Querem o mangue.
O mangue onde qualquer bandeira, vermelha principalmente, é renegada como demônio.
Não há esquerda. Não há direita. Dizem os neogrevistas.
Enquanto isso, pede-se a cura dos gays, jamais a da intolerância. Menos ainda da ganância. De quem quer greve, mas não se atreve.
Nunca se atreveu. A pedir mudanças e a sustentar o pedido. A confrontar a mídia, porque é ali o perigo.
Acho que peço muito. Mas greve sem trabalhador eu não conheço. Greve sem mobilização, greve de quem não tem patrão. Piada, meu irmão.

*Ana Helena Tavares, jornalista, editora do QTMD?

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