Páginas

Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, abril 15, 2012

OS EUA E O FUTURO DA CIÊNCIA NO BRASIL

 

 


Nas relações do Brasil com os Estados Unidos, há fatos que devem nos incomodar, como o recente recuo da Força Aérea dos Estados Unidos, a USAF, em cumprir o contrato de compra de 20 aviões Super-Tucano da Embraer, e a tradicional recusa dos norte-americanos em transferir tecnologia para o Brasil, principalmente no campo bélico e no nuclear. Essa recusa beira à sabotagem, desde o acordo Brasil-Alemanha (no campo nuclear), o que não recomenda, à primeira vista, os nossos vizinhos do norte em projetos que impliquem a transferência de conhecimento.
Esse pode ser o caso do “Ciência sem Fronteiras”, de envio de estudantes brasileiros para o exterior, e da parceria que se pretende estabelecer entre o ITA – o Instituto Tecnológico da Aeronáutica, berço da Embraer, e o MIT – o Massachussets Institute of Technology , uma das mais conceituadas instituições de ensino e de pesquisa dos Estados Unidos.
Basta ver o descalabro em que se encontra o DCTA – Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial, reduzido – apesar de recentes concursos - a 26% do pessoal que tinha em 1994, e a média de idade dos pesquisadores do IAE – Instituto de Aeronaútica e Espaço - que é de mais de 50 anos e é fácil perceber que a questão da Ciência e Tecnologia, com a geração de conhecimento de ponta no país, não se resolverá com a mera transferência de estudantes para o exterior.
O que precisamos é de decisão política para mostrar ao mundo quais são nossas prioridades estratégicas e com que rapidez respondemos aos desafios que surgem na área científica.
Quando o destino nos apresenta situações emergenciais temos que responder emergencialmente. É preciso quebrar a espinha dorsal da burocracia, que nos impede, por exemplo, de já estarmos montando os módulos e laboratórios destinados a substituir os que foram destruídos no incêndio da Estação Antártida Comandante Ferraz.
Não é razoável que falte dinheiro para treinar e repor pesquisadores em um projeto de longa data, como o do VLS (Veículo Lançador de Satélites), quando o BNDES empresta, sem maiores delongas, três bilhões de reais a uma multinacional estrangeira, como a Vivo, para a expansão de infraestrutura.
O país precisa projetar na Ciência e Tecnologia o planejamento e a competência já demonstrados na administração da macroeconomia, entre outros campos. Na área espacial é preciso juntar em uma só instituição os esforços do país, que envolvem hoje o INPE, a AEB, a Alcantara Cyclone Space.
E, se formos ampliar a cooperação com o MIT norte-americano, é preciso que se faça o mesmo com universidades e instituições congêneres dos nossos sócios dos BRICS. Nossos estudantes precisam aprender a conviver com estudantes russos, chineses, indianos. A Rússia continua dando um banho na pesquisa espacial. Recém homenageada com o título de Doutora Honoris Causa pela Universidade de Delhi, a Presidente sabe que a a China e a Índia, principalmente, estão acelerando, qualitativa e quantitativamente, dentro e fora de suas fronteiras, a formação de pesquisadores nas áreas de física, nanotecnologia, computação, programação de software.
Sabe também que há milhares de cientistas indianos e chineses que foram estudar nos Estados Unidos e não voltaram, preferindo ficar por lá, trabalhando, e emprestando seu talento, a empresas norte-americanas como as do Vale do Silício. Um bom exemplo do brasileiro que, às vezes pode ir e não voltar é o do jovem paulistano Michel Krieger, de São Paulo, de 27 anos de idade, que com 18 foi estudar na Universidade de Stanford, criou com um colega norte-americano o Instagram, e acabou de vender essa plataforma para o Facebook, por um bilhão de dólares.
A Ciência deve atravessar as fronteiras em todos os sentidos. Precisamos que o estudante brasileiro estude, eventualmente, no exterior, mas que possa também fazê-lo aqui, no território nacional, sem deixar de absorver conhecimento de ponta e universal. É possível, com menos recursos, lançar um concurso internacional voltado para a contratação de excelentes professores estrangeiros para nossas universidades, como se fez quando da criação da USP, sem prejudicar os docentes brasileiros.
E, no caso da pesquisa científica, trazer professores de fora é ainda mais premente, e talvez mais econômico. Como mostra o caso do DCTA, é preciso recompor e ampliar, com a mais absoluta prioridade, nosso quadro de pesquisadores, destruído por décadas de neoliberalismo.
*Gilsonsampaio

Nenhum comentário:

Postar um comentário